Autoras: Sueli Salva; Ethiana Sarachin da Silva Ramos; Nara Vieira Ramos; Elisete Medianeira Tomazzetti
O livro “Nas margens do Ensino Médio: jovens de escolas públicas em processo de afastamento” é resultado de um exaustivo e bem cuidado trabalho de investigação sobre os processos formativos, sociais e culturais de jovens do Ensino Médio e o fenômeno do abandono escolar ou afastamento escolar. Esse tema tem se tornado crucial pelo seu crescimento nas escolas do mundo todo, não sendo um problema social, econômico, político e cultural exclusivo do nosso país, pois acontece histórica e socialmente como uma tendência mundial. Ao mesmo tempo, configura-se em um complexo processo que tem levado gestores, pesquisadores e professores às análises mais profundas e fecundas como contribuições para as políticas educacionais.
A obra instigante e provocadora oferece ao leitor e ao campo da educação no Brasil contribuições e reflexões fundamentais para a compreensão de mecanismos, processos e práticas que estruturam os modos de escolarização da juventude no ensino médio e colabora para mostrar como o cotidiano da escola pública coopera para perpetuação do que poderíamos chamar do “fracasso programado” da escolarização de jovens pobres na desigual sociedade brasileira.
Nessa perspectiva, traz a compreensão dos motivos que levam os/as jovens a se afastarem dos processos formativos, problematizando as significações sobre esses processos construídos por eles. Nesse sentido, o estudo dá visibilidade aos motivos e problemas encontrados na escola pública, especialmente o fracasso escolar que tem sido tão caro aos debates e reflexões na área da educação. Desta forma, apresenta inquietações muito bem articuladas teórica e metodologicamente por autores de renome sobre o cotidiano social e cultural dos jovens que frequentam o Ensino Médio.
O livro discute a cultura da juventude urbana brasileira retratada no perfil dos jovens de Santa Maria, presente nas salas do Ensino Médio. O entendimento sobre juventude e Ensino Médio é bastante contundente e expressivo no estudo, pois reflete a atualidade e relevância em tratar dos jovens como sujeitos heterogêneos que vivenciam culturas diversificadas, diferentes situações econômicas, diferentes estilos de vida, comportamentos, interesses, necessidades e ocupações. Pensar como os jovens constroem suas aprendizagens requer a compreensão do lugar social ocupado por estes atores sociais na escola e na sociedade. Nessa perspectiva, a obra dimensiona o olhar retrospectivo e sensível para o entendimento sociológico da categoria juventude vista na perspectiva histórico-sócio-cultural.
Ao mesmo tempo, aborda de forma contundente a problemática vivenciada por estes jovens em conciliar estudo e trabalho no cotidiano de grandes transformações do mundo do trabalho, dos novos tempos, rápidos e de muita complexidade. Muitos são os obstáculos que enfrentam nossos jovens na contemporaneidade, especialmente quando se trata da inserção profissional e as dificuldades no mercado de trabalho, em que se veem na luta prematura com diversas responsabilidades, tendo que lançar mão de estratégias e facetas peculiares para a concretização de seus sonhos e as chances de alçar voos mais distantes.
Destaca-se na obra, ainda, o investimento no processo dialógico entre os sujeitos da investigação: alunos(as), professores e gestores das escolas a partir da etnografia, o que possibilita potencializar o escopo analítico que explora epistemologicamente o contexto estrutural e social que envolve os sujeitos da investigação. Por tudo isso, o livro é inovador, traz um conjunto de reflexões para o debate sobre os novos tempos que ditam um requisito indispensável para os jovens do Ensino Médio, da escola pública, mostrando o quão são necessários novos pensamentos e conhecimentos para dar conta e oferecer uma educação de qualidade para o futuro de nossos/as jovens brasileiros.
Contato com as autoras:
Organizadora: Maribel da Costa Dal Bem
O livro Sem Amarras, produzido pelos alunos apenados do Presídio Regional de Santa Maria, é uma produção coletiva que faz parte do Projeto Aprisionados, mas livres para ler e escrever! Este trabalho de leitura e escrita, elaborado a partir de atividades escolares, contribui como forma de conscientização, sendo uma experiência positiva de aprender fazendo e refletindo ações no processo de ensino- aprendizagem e de reflexão-ação, conforme Paulo Freire. Neste sentido, uma pessoa se torna sujeito na medida em que o espaço no qual ela vivencia esta experiência está predisposto a criar possibilidades que viabilizem a sua participação como sujeito e não somente como indivíduo. Permitem colocar em evidência suas referências e os valores das pessoas envolvidas, recursos utilizados na busca do sentido da própria existencialidade.
Este projeto tem essencialmente a abordagem voltada para as dimensões formadoras da escrita com produções textuais de diferentes gêneros, com a proposta de desenvolver vários temas sociais escolhidos e protagonizados pelos próprios alunos. Esta prática nos remete sempre ao pensamento Freireano quando nos elucida com a seguinte frase: “Quem apenas fala e jamais ouve; quem “imobiliza” o conhecimento e o transfere a estudantes, não importa de qual espaço ocupem; quem ouve o eco apenas de suas próprias palavras, numa espécie de narcisismo oral, não educa.” Os princípios da Educação para Jovens e Adultos estão inseridos neste trabalho quando nos transportam à educação popular que oportuniza o diálogo, ou seja, educador é o mediador entre diferentes saberes, valorizando a realidade dos educandos e preparando-os para o exercício da cidadania, a valorização das experiências e dos diferentes saberes dos sujeitos, considerando a diversidade cultural, com vivências humanizadoras que proporcionam a reconstrução da realidade de forma emancipatória. Acreditamos na potencialidade de cada um em reintegrar-se na sociedade através da educação e recomeçar a sua vida com dignidade. A presente proposta de trabalho faz esta caminhada com seus educandos, buscando intervir na formação e na transformação de si mesmos e da realidade que os cerca.
Contato com a organizadora: