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Famílias sem Libras: até quando?

Organizadoras: Cleusa Inês Ziesmann; Gladis Perlin; Shirley Vilhalva; Sonize Lepke

Esta importante coletânea – Famílias sem Libras: Até quando? – surgiu a partir da necessidade de (re)pensarmos sobre questões pertinentes que envolvem a Libras dentro da família dos sujeitos surdos. Foi assim que organizamos essa obra, com alguns capítulos, apresentando essas histórias em um livro.

Esses capítulos são vivências de surdos, de pais ouvintes e amigos que acompanharam momentos angustiantes na vida de pessoas surdas.

Essas histórias são também como “um oásis no meio do deserto” para aqueles que estão diante da inesperada “diferença” do filho surdo. Assim, os vários autores dos capítulos deste livro, trazem para estas páginas, histórias com reflexões teóricas válidas.

Essas e outras leituras se enriquecerão ao levar em conta a consciência da diferença do surdo, por isso, convidamos você para deleitar-se com essas inebriantes histórias, descritas com muita paixão por cada autor.

Contato com as organizadoras:

cleusa.ziesmann@uffs.edu.br
shivi323@hotmail.com
gladisperlin@gmail.com
sonize.lepke@uffs.edu.br

Normal? É ser diferente!

Organizadora: Silvana da Rosa

Apresentação, pela organizadora:

Leciono há mais de vinte anos na educação básica da rede pública estadual e, a menos tempo, no ensino superior em uma rede privada. Nesse percurso de tempo, trabalhando em escola pública e com Língua Portuguesa, a minha angústia foi se acentuando à medida que se incluía mais alunos com necessidades especiais no contexto cotidiano da sala de aula e eu não encontrava obras literárias que, realmente, valorizassem a importância de se respeitar o outro e suas diferenças.

Sabe-se que ainda não se tem uma literatura vasta quanto a essa questão, bem como obras literárias que trazem personagens incluídos são recentes. No entanto, o que me intrigava é que nos materiais referentes à inclusão, abordava-se qual metodologia utilizar em sala de aula, quais livros literários eram recomendados para se trabalhar tal situação, mas por que os clássicos e obras do realismo maravilhoso, considerados famosos e que tanto agradam crianças e jovens (e por que não adultos?), sofreram inúmeras releituras, mas nenhuma aborda a presença de personagens incluídos?

Evidentemente que já se abordou em obras madrastas malvadas, o patinho feio, por exemplo. Personagens feios, cruéis, não com necessidades especiais. Em O Soldadinho de Chumbo (de Hans Christian Andersen, 1838), talvez seja a primeira abordagem de inclusão em relação à Literatura.

Desse modo, a busca diária de suporte para o planejamento de minhas aulas, motivou-me a estabelecer diálogos com os estudos já realizados por Foucault (1979, 1985, 2001, 2010), Gilles Deleuze (1992, 2005), Gallo (2008, 2012), Pires (2006) sobre a Educação Inclusiva.

Comprovadamente, há um número expressivo de alunos com necessidades especiais, matriculados em escolas no país. E por que a Literatura não direcionou o olhar a esse público?

De acordo com os dados fornecidos no site “A educação inclusiva no Brasil em números”, o universo de alunos matriculados em escolas no Brasil equivalia a 54 milhões de pessoas, em 2010. Já os dados do IBGE, em levantamentos feitos na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD), realizada em 2009, quanto às pessoas que apresentavam algum tipo de deficiência (física ou mental), mostrava um contingente aproximado de 2 milhões e 500 mil entre os brasileiros que tinham entre 4 e 17 anos (em idade escolar).

Observando-se esses percentuais, faz-se necessário lembrar a importância do trabalho docente em relação à prática efetiva de inclusão social e isso corresponde, principalmente, ao planejamento desse em relação a que trabalho apresentar à turma, qual a finalidade de tal planejamento e quais valores devem-se enfatizar ao abordar tal assunto, buscando assim, a construção de uma sociedade inclusiva. Segundo Pires (2006, p.32), “a prática inclusiva supõe o abandono definitivo de práticas e relações sociais discriminatórias, inscrito num profundo processo de mudanças atitudinais de uns em relação aos outros. E dentro desse processo é preciso quebrar tabus (…)” – todos precisamos de todos, todos dependemos uns dos outros,
pela simples razão de vivermos em sociedade.

O reconhecimento desta interdependência nos levaria ao reconhecimento do valor do outro e, no enfrentamento dos problemas, a sabermos somar as forças para buscar as soluções.

Denota-se que uma das funções da instituição escolar é o ensino de leitura e literatura. Por meio da literatura conhece-se a realidade humana, buscam-se soluções para o enfrentamento de problemas, protagonizam-se personagens nas histórias lidas e ouvidas, além de ser um eficiente instrumento pedagógico. Além disso e, talvez, o mais importante, o texto literário faz aflorar o íntimo de cada ser, permitindo a transparência de emoções.

Desse modo, seria interessante vivenciar na leitura realidades constantes da sala de aula, como a vivida pelo aluno incluído. Em contos de fadas, como A Bela Adormecida, por exemplo, o príncipe poderia ter encontrado o castelo em que se encontrava a princesa adormecida com a ajuda de seu cão-guia, uma vez que o herói não podia ver, mas sentir o seu entorno.

Nesta perspectiva, percebe-se que é diferente quando o aluno incluído se imagina na situação de protagonista, o que difere quando o aluno sem necessidades especiais vê-se na situação de uma pessoa com deficiência e que necessita resolver situações difíceis, mesmo tendo restrições para desempenhá-las. Realmente, aí está a possibilidade de se colocar no lugar do outro, ao mesmo tempo, compreendendo e vivenciando a sua diferença.

Contemporiza Castro (2006, p.67), quando menciona “o papel da disciplina dos corpos como definidora de uma fronteira entre o normal e o anormal”. Segundo ele, o domínio disciplinar mede capacidades e, por meio de regras e convencionalismos sociais, mede-se o normal e o anormal.

Há um modo específico de castigar no domínio disciplinar.
Para a disciplina não se trata de expiar uma culpa nem de reprimir, mas sim de referir as condutas do indivíduo a um conjunto comparativo, de diferenciar os indivíduos, medir capacidades, impor uma medida, traçar a fronteira entre o normal e o anormal.

Realmente, a sociedade é bastante discriminatória, tanto que mede capacidades, traçando valores comparativos entre os seres, e determinando padrões para a convivência social. Quem não os segue é rotulado como antissocial, subversivo, demente, monstro. Conforme Michel Foucault, o anormal é comparado a um monstro pálido, que apresenta diferença em relação aos demais e essa caracterização irá persistir para o autor até, talvez, o século XX: “Digamos numa palavra que o anormal (e isso até o fim do século XIX, talvez XX); (…) é no fundo um monstro cotidiano, um monstro banalizado. O anormal vai continuar sendo, por muito tempo ainda, algo como um monstro pálido (2001, p. 71)”.

No entanto, o que é um monstro pálido? James Sullivan, em Monstros S.A., protagoniza um monstro, o qual encantou os telespectadores. No entanto, será que os mesmos viram-no como monstro? Ou como o personagem principal dessa trama? Ou ambas as situações? Indagações como essas podem ser problematizadas em sala de aula. E, incontestavelmente, por meio da leitura de obras literárias é que o educador pode contribuir para que se desfaça estereótipos disseminados socialmente e entre gerações, exterminando (pre)conceitos que atrasam a evolução intelectual humana.

Por meio da leitura pode-se inserir formas positivas de se pensar a educação para a diversidade e de se incentivar a receptividade da população diante das diferenças. Além disso e, ainda por meio da literatura, pode-se concluir que “os seres humanos são diferentes, pertencem a grupos variados, convivem e desenvolvem-se em culturas distintas. São então diferentes de direito. É o chamado direito à diferença; o direito de ser, sendo diferente” (Ferreira e Guimarães, 2003, p.37).

Consoante a isso, sendo eu docente e, sobretudo, trabalhando a disciplina de Literatura Infanto-juvenil no curso superior, senti a necessidade de propor um projeto aos acadêmicos de Letras, para que se pudesse trabalhar melhor a questão da diferença em sala de aula. O estudo voltouse, então, para a Literatura Inclusiva e os processos de normalização da diferença, por meio de questões referentes à educação, cultura e produção de sujeitos.

Assim, buscando valorizar, por meio da literatura infanto-juvenil e juvenil, o respeito ao outro e o princípio da alteridade em relação a grupos sociais que sofram exclusão por apresentarem necessidades educativas especiais, propôs-se que fosse realizada a criação de releituras online de clássicos e narrativas do realismo-maravilhoso, tais como: Romeu e Julieta, de William Shakespeare e O Pequeno Príncipe, de Antoine de Saint-Exupéry (clássicos), A Bolsa Amarela, de Lígia Bojunga e Reinações de Narizinho, de Monteiro Lobato (realismo-maravilhoso). Nessas narrativas e em outras histórias acresceram-se personagens com necessidades especiais, buscando com isso não só a oportunidade de o leitor/ouvinte externar e refletir sobre sentimentos, sobre a inclusão de pessoas com necessidades especiais, mas também valorizar as diferenças, ou seja, respeitar os grupos sociais que sofram exclusão por se constituir como minoria social, como os cadeirantes, surdos-mudos, autistas, deficientes físicos, visuais, mentais, entre outros.

E, aqui está a criação online, agora impressa. O projeto concretizou-se. Agora, cabe a nós, leitores/ouvintes, mudanças atitudinais para que a prática inclusiva seja, realmente, efetivada. E, então, o espetáculo harmônico de matizes em nosso planeta será percebido se nele habitar diferentes homens, vivificados por singulares características.

Contato com a organizadora:

silvana.rosa@urisantiago.br